Era um
baile de gala e ele não estava muito acostumado, alias, nenhum deles estava. De
um lado, estavam todos os garotos, sentados esperando a música começar, do
outro, todas as garotas, apreensivas para serem chamadas por um garoto. Ele
encontrava-se numa roda de amigos, porém nunca tirava os olhos do outro lado...
A valsa
começava a tocar e o movimento no salão aumentava, os pares já pareciam pré
organizados ou ao menos todos sabiam quem iriam chamar. Vários de seus amigos
levantaram e iam até o outro lado, tirando sorrisos de garotas. Alguns
permaneciam ali, esperando algum convite por não terem alguém certo para
chamar. Ele levantou-se, o salão dançava e animava-se, mas ao mesmo tempo
parecia observá-lo. Parou em um local, onde se sentavam uma garota ao lado uma
cadeira vazia e depois outra garota, que o olharam com esperança nos olhos.
Esse local era próximo ao saguão de saída, que dava acesso aos dormitórios.
Ele
apoiou-se em um dos joelhos, a mão esquerda em “L” nas costas e a direita
estendida, a frase era clássica e a voz doce:
- Me dá
a honra dessa dança?
O tempo
parou, o salão parou e todos pareciam ter voltado o olhar para ele, parecia que
o silêncio reinava ali e as garotas o olhavam assustado. Ele estava voltado à
cadeira vazia, onde ninguém sentava. Elas então entendiam, mas não se animaram,
voltaram a esperar por algum par. Uma garota trajando roupas simples, estava
escondida atrás da parede do saguão, ela colocou a mão na boca, não conteve as
lágrimas. Seus passos apressados em direção ao dormitório chamaram a atenção
dele, que se voltou a tempo de vê-la correndo para lá.
Tudo
foi um grande mal entendido. Ela havia esquecido de pegar o celular no
dormitório e ele, havia dito aquilo em um som alto, para que ela ouvisse e o
visse quando estivesse voltando, era para ser uma surpresa, porque ele nunca
tinha se confessado a ela.
Ele
revoltou-se, voltou ao lugar que estava sentado antes, puxou uma cadeira e
sentou-se. O último dos seus amigos ainda estava lá, mas logo uma garota tímida
veio convidá-lo, parecia o convite que aquele garoto tanto esperava e lá se foi
o último dos seus amigos. Ao mesmo tempo, duas garotas chegaram onde eles
estavam, uma delas pensava em convidar esse amigo, mas parecia que a outra
garota tinha chego primeiro. Ela decepcionou-se, até ver o nosso personagem
sentado, olhando para o celular, revoltado. Elas comentaram entre si:
-
Parece que tirei a sorte grande...
Uma
delas o convidou, ele hesitou por um momento, olhando para o celular, mas logo
se levantou e aceitou. Segurou a mão da garota e foram até o meio do salão, até
que seu celular tocou, uma mensagem escrito “estou decepcionada”. Parou por um
instante, a garota tentou puxar o celular da mão dele:
- Quem
é? Vou ficar com ciúmes... – O tom era de brincadeira.
Ele
gentilmente segurou a mão dela, levando as costas desse aos lábios, dando um
pequeno beijo ali.
- Perdão...terei
de recusar a dança e fazer uma ligação.
Claramente
ela não gostou da idéia, mas ele correu até o saguão, ainda vazio. Ligou. O
telefone tocou, tocou e tocou. Até a voz chorosa atender, ele disse poucas
palavras, afinal, também era um tanto tímido.
- Ainda
te espero.
E assim
fez, ficou parado no saguão, olhando as escadarias do dormitório. As mãos
cruzadas nas costas. O tempo foi passando, a música foi parando e as pessoas
começaram a passar por ele, apressadas, sorridentes, algumas com seus pares da
noite. Nenhuma parecia ligar para presença dele e ele, não ligava para a de
ninguém. Algumas luzes se apagavam, porém ele continua irredutível.
Os
músicos estavam se cumprimentando para ir embora, nessa hora, passos faziam um
eco enorme no local e aqueles, pareciam apressados. Ela descia correndo, a
maquiagem estava borrada, o cabelo desarrumado e os olhos inchados. Ele moldava
um sorriso, apoiou-se em um joelho, a mão em “L” nas costas e a outra esticada.
- Me dá
a honra dessa dança, minha princesa?
Ela não
pode deixar de sorrir. Levou a mão a dele, segurando-a de modo firme.
- É
claro, meu príncipe.
A luz
erra fraca, não havia mais música. Ele levantou-se, os corpos se juntaram para
a valsa que ele cantarolava, baixinho, próximo ao ouvido dela que fechava os
olhos e se envolvia na dança, deixando ele e o momento guia-a. O último
violinista que estava indo embora ouvia o eco da sinfonia e tocou-se pela cena.
Sentou-se e começou a tocar, a valsa que ambos lembrariam, como num sonho com
um final feliz...
[Foi um sonho que tive]
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