domingo, 10 de junho de 2012

Baile e devoção




               Era um baile de gala e ele não estava muito acostumado, alias, nenhum deles estava. De um lado, estavam todos os garotos, sentados esperando a música começar, do outro, todas as garotas, apreensivas para serem chamadas por um garoto. Ele encontrava-se numa roda de amigos, porém nunca tirava os olhos do outro lado...
                A valsa começava a tocar e o movimento no salão aumentava, os pares já pareciam pré organizados ou ao menos todos sabiam quem iriam chamar. Vários de seus amigos levantaram e iam até o outro lado, tirando sorrisos de garotas. Alguns permaneciam ali, esperando algum convite por não terem alguém certo para chamar. Ele levantou-se, o salão dançava e animava-se, mas ao mesmo tempo parecia observá-lo. Parou em um local, onde se sentavam uma garota ao lado uma cadeira vazia e depois outra garota, que o olharam com esperança nos olhos. Esse local era próximo ao saguão de saída, que dava acesso aos dormitórios.
                Ele apoiou-se em um dos joelhos, a mão esquerda em “L” nas costas e a direita estendida, a frase era clássica e a voz doce:
                - Me dá a honra dessa dança?
                O tempo parou, o salão parou e todos pareciam ter voltado o olhar para ele, parecia que o silêncio reinava ali e as garotas o olhavam assustado. Ele estava voltado à cadeira vazia, onde ninguém sentava. Elas então entendiam, mas não se animaram, voltaram a esperar por algum par. Uma garota trajando roupas simples, estava escondida atrás da parede do saguão, ela colocou a mão na boca, não conteve as lágrimas. Seus passos apressados em direção ao dormitório chamaram a atenção dele, que se voltou a tempo de vê-la correndo para lá.
                Tudo foi um grande mal entendido. Ela havia esquecido de pegar o celular no dormitório e ele, havia dito aquilo em um som alto, para que ela ouvisse e o visse quando estivesse voltando, era para ser uma surpresa, porque ele nunca tinha se confessado a ela.
                Ele revoltou-se, voltou ao lugar que estava sentado antes, puxou uma cadeira e sentou-se. O último dos seus amigos ainda estava lá, mas logo uma garota tímida veio convidá-lo, parecia o convite que aquele garoto tanto esperava e lá se foi o último dos seus amigos. Ao mesmo tempo, duas garotas chegaram onde eles estavam, uma delas pensava em convidar esse amigo, mas parecia que a outra garota tinha chego primeiro. Ela decepcionou-se, até ver o nosso personagem sentado, olhando para o celular, revoltado. Elas comentaram entre si:
                - Parece que tirei a sorte grande...
                Uma delas o convidou, ele hesitou por um momento, olhando para o celular, mas logo se levantou e aceitou. Segurou a mão da garota e foram até o meio do salão, até que seu celular tocou, uma mensagem escrito “estou decepcionada”. Parou por um instante, a garota tentou puxar o celular da mão dele:
                - Quem é? Vou ficar com ciúmes... – O tom era de brincadeira.
                Ele gentilmente segurou a mão dela, levando as costas desse aos lábios, dando um pequeno beijo ali.
                - Perdão...terei de recusar a dança e fazer uma ligação.
                Claramente ela não gostou da idéia, mas ele correu até o saguão, ainda vazio. Ligou. O telefone tocou, tocou e tocou. Até a voz chorosa atender, ele disse poucas palavras, afinal, também era um tanto tímido.
                - Ainda te espero.
                E assim fez, ficou parado no saguão, olhando as escadarias do dormitório. As mãos cruzadas nas costas. O tempo foi passando, a música foi parando e as pessoas começaram a passar por ele, apressadas, sorridentes, algumas com seus pares da noite. Nenhuma parecia ligar para presença dele e ele, não ligava para a de ninguém. Algumas luzes se apagavam, porém ele continua irredutível.
                Os músicos estavam se cumprimentando para ir embora, nessa hora, passos faziam um eco enorme no local e aqueles, pareciam apressados. Ela descia correndo, a maquiagem estava borrada, o cabelo desarrumado e os olhos inchados. Ele moldava um sorriso, apoiou-se em um joelho, a mão em “L” nas costas e a outra esticada.
                - Me dá a honra dessa dança, minha princesa?
                Ela não pode deixar de sorrir. Levou a mão a dele, segurando-a de modo firme.
                - É claro, meu príncipe.
                A luz erra fraca, não havia mais música. Ele levantou-se, os corpos se juntaram para a valsa que ele cantarolava, baixinho, próximo ao ouvido dela que fechava os olhos e se envolvia na dança, deixando ele e o momento guia-a. O último violinista que estava indo embora ouvia o eco da sinfonia e tocou-se pela cena. Sentou-se e começou a tocar, a valsa que ambos lembrariam, como num sonho com um final feliz...

[Foi um sonho que tive]

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