quarta-feira, 28 de novembro de 2012

19

Era uma daquelas pessoas que pensava muito, e que na verdade não deveria.

Aos doze anos, em uma excursão com a turma da escola, demorou tanto para se decidir sobre qual sabor de sorvete queria que acabou não comprando nenhum. Era uma tarde bem quente e ele era o único - sentado na mureta que separava o canteiro da calçada da praça - que não tinha sorvete. Ficaram lá por uns vinte minutos esperando o ônibus chegar, e o menino não tinha sorvete. Quando chegou em casa, prometeu a si mesmo que escolheria qualquer sabor da próxima vez.

Aos dezessete anos, seus amigos o convidaram para ir a uma festa mas ele precisava estudar para uma prova de física - mais precisamente sobre termodinâmica - que teria na segunda feira. Pensou, pensou, pensou e quis ficar em casa. Lembrou do sorvete, do calor e das outras crianças sentadas na mureta e balançando os pés, todas com picolés nas mãos. Ligou para os caras e combinou de se encontrarem cedo para irem sem pressa. Foi à festa mas voltou cedo, preocupado com a prova. Era uma noite fresca e ele era o único - sentado em uma mesa enquanto as pessoas se divertiam na pista - que pensava na correlação entre temperatura, volume e pressão. Quando chegou em casa, prometeu a si mesmo que da próxima vez tentaria se distrair mais.

Aos vinte anos conheceu uma garota. Uma garota que ele futuramente descreveria como "fantástica". Uma garota para quem ele teria dito isso se tivesse prestado mais atenção nela. Ela era normalzinha, relativamente bonita e com a habilidade de fazê-lo rir a qualquer momento que quisesse. E ele, também normalzinho e com  um senso de humor delicioso, a deixava feliz quase que constantemente. Tinham muitas coisas em comum, e muitas idéias diferentes também.

 Não se sabe ao certo como essas coisas começam, pois muitos acreditam que a faísca não é tão fácil de identificar quanto o fogo, mas ela se apaixonou por ele. E ele, mesmo sem querer admitir, também gostava dela.  Até que ponto ele considerou a ideia e até que ponto eles dariam certo nós nunca saberemos, porque eles não tentaram ficar juntos.  Eram daquelas pessoas que têm medo demais, quando na verdade não deveriam.

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