domingo, 29 de julho de 2012
8
E chegou uma hora que fazia mais sentido enxergar as pessoas como cores, não por torná-las mais simples, mas porque isso o ajudava a enxergar melhor a complexidade delas. Todas as células do corpo de Dani gritavam laranja, do tipo que captura sua atenção, ardente e brilhante. Ela sempre foi laranja, como ele percebeu desde a primeira vez que a viu, e isso o fez tremer. Mesmo ela não acreditando que laranja e azul ficam bem juntos - o que é um grande absurdo, claro - ele não perdia as esperanças.
Os azuis eram, definitivamente, as pessoas mais fascinantes que ele conhecia e, mesmo que falhasse em enxergar em si mesmo tudo aquilo que via nos outros, estava grato por fazer parte desse grupo. As pessoas dizem que azuis são calmos - talvez não por dentro, ele pensava, lembrando da tormenta que eram suas emoções. Mas o mar também passava por momentos de agitação que mal podiam ser contidos e ele refletia o azul do céu, não é mesmo? Azul tem mistério, ele lembrou e começou a rir da sua vida estática, imaginou se as pessoas conseguiam achar algum mistério naquilo. Azul é uma cor curiosa, porque te ensina a confiar seja lá no que for necessário.
Ele deixou de se sentir azul no dia em que apanhou daqueles garotos insuportáveis. O capuz de seu moletom, vermelho escuro, cobrindo o rosto enquanto passava pelo grupo de agressores. "Vai logo, Chapéuzinho.", eles disseram brincando.
Vermelho. Ele pode viver com vermelho - energia, intensidade, determinação. Combinava muito bem. Na verdade isso o ajuda. Saber que ele e Dani não são complementares, mas sim análogos. O que faz sentido já que, de uma maneria estranha, os dois têm muito em comum: inteligentes, reservados e com indícios de mentirosos patológicos.
Pensou no melhor amigo: Tales era amarelo - alegre, estimulante e, muito frequentemente, um sinal de perigo iminente. Alice é violeta, complementando a falta de juízo de Tales com um certo toque de nobreza, ambição e paixão de quem corre atrás do que quer. Os dois haviam se encontrado em meio a tantas pessoas e agora não se deixavam mais.
Ele encontra essa garota um dia, logo depois de uma caminhada, saindo do parque e de volta para as ruas barulhentas da cidade. Olhos brilhantes enquanto confere o horário em seu relógio de pulso. Ela transparece essa aura calma, como se ela fosse uma extensão das árvores que se elevam e protegem aquele caminho do sol. Ela foi feita para aquele lugar, ou talvez o lugar tenha sido feito para ela.
Ele lembra de ter lido que a cor verde é a que mais acalma o olhar. Transparece resistência, crescimento e esperança. Ela fica surpreso ao perceber que queria que ela fosse verde, que pudesse expressar esse sentimento de cura e segurança. Ele queria, com toda a sinceridade, que fossem complementares.
Ele faz o que pode, trilhando seu caminho em direção a ela e derrubando os muros que os separavam. Quanto mais ela o deixa descobrir, mais ele quer saber. Eles ficam bem juntos, o instinto de um com o sarcasmo do outro. E quando ela o beija - docemente e devagar - ele tenta se segurar em algo que o mantenha estável. Seus pensamentos numa súplica constante.
Que seja verde, que seja verde.
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Não só as cores, mas também o modo de olhar as pessoas muda. Muda de forma a vê-los com olhos mais sutis, em detalhes que deixamos passar ou que simplesmente não notamos e que quando nos são expostos, mostram a sua beleza.
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